domingo, 4 de dezembro de 2011

Aluá


Aluá é, tradicionalmente uma bebida fermentada, de abacaxi ou de milho. O nome viria do árabe, heluon, doce. Doce bastante apreciado no Oriente, é composto de farinha de arroz, manteiga e jogra, que é o açúcar retirado da palmeira. É semelhante ao nosso manjar branco, conforme o pesquisador folclorista Luís da Câmara Cascudo. Outras pessoas afirmam que é uma corrutela da expressão "ao luar", pela forma como os negros escravos preparavam a bebida em rituais de confraternização.
O aluá foi uma bebida trazida pelos portugueses e que foi usada, na época da colonização, na Amazônia, Ceará, Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte, depois de passar por um processo de aculturação, substituindo-se a fruta ou cereal fermentado e o açúcar pela rapadura. Até mesmo na capital do Império, o aluá teve sua vez. Câmara Cascudo informa que em 1881, França Júnior, cronista do séc. XIX, evoca a popularidade do aluá durante o reinado de Pedro I na capital do Império: "No primeiro reinado o refresco em voga foi o aluá. O pote de aluá saía para o meio da rua, e o povo refrescavase ao ar livre, a vintém por cachaça". Uma senhora, amiga, relembrou da sua infãncia no interior do Ceará, quando o aluá era feito em todas as casas onde haviam festejos juninos. "Não se fazia quadrilha sem ter aluá em casa para servir ao povo todo".
No Nordeste, a aluá ainda permanece vivo em alguns lugares no sertão, nas novenas, nas festas da padroeira. Em Minas Gerais ele também sobrevive e existe uma tradição de que não pode ser vendido, mas servido em rituais de fé (hoje, nas irmandades católicas) como faziam os negros que dançavam, cantavam e bebiam o líquido de baixo teor teor alcoólico (cerca de 3,5°) que, neste caso, era à base de abacaxi. Minha mãe sempre fez aluá em casa, quando éramos crianças, da casca do abacaxi. É delicioso, com um leve ácido e bolhinhas naturais que se formam na boca por causa da fermentação.
Na casa de Mãe Betinha de Iemanjá Sabá (essa foto antiga é de lá), era tradicional servir aluá (lá chamados garaxó, de abacaxi ou milho). Eram jarras enormes, servidas nas festas para Ibeji, quando os erês se fartavam (e nós, mais crescidos um pouco, também). Nunca ouvi falar de outro terreiro em Pernambuco, com esta tradição que só ouvi falar de terem existido em casas muito antigas da Bahia.
Então, uma boa oportunidade de experimentar. Existem aluás feitos de vários tipos de fontes de amido fermentados ou açúcares, além do milho e abacaxi. Encontrei receitas de aluá até feito de pão, farinha de arroz ou de mandioca. São receitas perdidas no tempo, morrendo com nossa memória e que valem a pena relembrar.


Aluá de milho

Dois litros de milho vermelho seco
Dezoito litros d'água
Cinco rapaduras de um quilo cada
Suco de dez limões, ou o equivalente em laranjas ou outras frutas ácidas, frescas
Uma raiz de gengibre partida e amassada
Jarra de barro já usada e que caiba tudo

Escolha, lave e leve o milho ao sol, para secar. Bote uma caçarola, sem gordura nenhuma, ao fogo, coloque o milho e mexa para tostar todo por igual. Retire do fogo e deixe esfriar. Triture grosseiramente o milho em um pilão. Ponha a água na jarra bem como o milho já frio e o gengibre. Tampe bem a jarra e deixe em Infusão durante oito a dez dias. Todos os dias dê uma mexida e, logo em seguida, tampe a jarra. No dia de servir, raspe ou corte em pedaços pequenos as rapaduras e coloque tudo dentro da jarra, já com a água e o milho. Mexa bem até dissolver as rapaduras. Coe num coador de pano, usando em uma toalhinha de cozinha bem limpa. Adicione o suco de frutas. Caso prefira mais doce, pode botar mais açúcar, de acordo com o gosto da pessoa. O aluá também pode ser feito com açúcar comum.

Postado por Leonardo Crocia
blog : povodoaxe

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