terça-feira, 24 de maio de 2011

Da indústria da seca para a convivência com o Semi-Árido brasileiro


Cercas, favores e votos

Como explicar que tenha sido criada e mantida durante tanto tempo a imagem de que o semi-Árido brasileiro é uma região seca e relativamente inabitável, causadora de uma miséria invencível?
São muitas as causas, mas sua compreensão poderá tornar-se mais concreta se partimos de uma apresentação do que é geograficamente esse Semi-Árido.
Uma área imensa e diversificada
O Semi-Árido brasileiro é um dos maiores do planeta, em extensão geografica e em população. Tem perto de 868.000 quilômetro quadrados; abrange o norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santos, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão. Vivem nessa região mais de 18 milhões de pessoas.
Em termos gerais, é semi-árida uma área territorial em que há deficiência e/ou irregularidade de chuvas, fazendo com que a evaporação seja superior à precipitação. Geralmente, nessa área há ocorrência de secas periódicas.
O Semi-árido brasileiro é um dos mais úmidos do mundo. A precipitação pluviométrica é de 750 milímetro, em média. Em condições normais, chove mais de 1.000 milímetro. Isso é muita água em qualquer parte do mundo, um índice privilegiado em comparação com outros áreas semi-árida. Israel, por exemplo, pode ser considerado região árida, nessa comparação.
 O problema do Semi-árido brasileiro “ é que o cristalino está à flor da terra, praticamente. O solo é muito raso, a retenção de água subterrânea é muito difícil. Normalmente, se tem pouquíssima água retida, porque o rum off (escoamento), como dizem os ingleses, é muito forte. A água cai e corre. Se furar um pouco, encontra-se rocha cristalina, rocha matriz. Portanto, os solos capazes de reter água mesmo não muito fundos. Lençóis freáticos, só em certas regiões se tem, isso tudo com brechas e com rupturas. Em alguns lugares, dentro da rocha cristalina se tem uma falha grande onde se encontra água boa e pura. Lá no Piauí e em outras áreas do Nordeste, a rocha granítica matriz se rompeu, acumulou e tem uma piscina de água retida guardada. é uma região muito especial: se for estudada bem, trabalhada bem, desenvolvida, pode ser fluorescente. Não é para abandonar o Nordeste, não...”  
Essa citação do grande mestre Celso Furtado nos ajuda a entender duas coisas: primeiro, que a região, no seu conjunto, se caracteriza por ter solos, com baixa capacidade de retenção das chuvas, o que a torna frágil em relação às ocorrências de estiagens; segundo, que, por ser tão extenso geograficamente, esse Semi-Árido é diversificado. Parte dele já é árida, desertificada. Algumas outras áreas estão em processo intenso de degradação, constituindo o polígono da seca, em que a população sofre muito mais quando as chuvas se tornam mais raras. Mas existem verdadeiro oásis dentro da região, com terras úmidas e que guardam a água como esponjas o ano inteiro.
Essa rápida caracterização nos indica que o desafio central do Semi-árido é o armazenamento e o uso adequado da água das chuvas. Existem rios, temos água subterrânea, foram construídas grandes barragens, existem áreas de irrigação com água captada de rios ou de poços artesianos. E como chove relativamente bem nele, é possível guardar com facilidade o precioso presente. Isso leva muitos estudiosos a afirmar que a água não é o maior problemas da região. Qual será, então, o problema maior?
LIVRO: ÁGUA DE CHUVA 
O segredo da convivência com o Semi-Árido brasileiro - IRPAA

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