sexta-feira, 7 de junho de 2013

Anísio Teixeira e a questão ambiental

João Augusto de Lima Rocha
O educador Anísio Teixeira que, segundo Florestan Fernandes, foi o primeiro e único filósofo da educação no Brasil, alimentou-se dessa condição para promover inovadora atuação prática na vida pública brasileira, por mais de 40 anos. É o caso da questão ambiental.
Escolhido pelo governador  Francisco Marques de Góis Calmon, em abril de 1924, aos 23 anos de idade, para dirigir a educação baiana, um mês depois promoveu um evento, em Salvador, com o qual instituiu a comemoração da Festa da Árvore (dia 13 de maio), cuja grandiosidade pode ser aferida pelo que noticiou o Diário Oficial do  Estado da Bahia, edicão do dia 15 de maio daquele ano:
 "Terminado o ofício divino, usou da palavra o Dr. Anísio Spinola Teixeira, Inspetor do Ensino, que pronunciou a bela oração para a qual abrimos espaço:
Há no sertão da Bahia, pelo mês de agosto, um espetáculo confrangente.
Agosto é o mês culminante da estiagem. Em maio mínguam definitivamente as chuvas. Cai sobre a terra, como um castigo, nos meses de junho, julho e agosto, um grande sol fulgurante, com ardências de braseiro. O céu, muito azul, tem um brilho seco e irritante de metal polido. Fugiram as nuvens. Fogem o vento e a frescura natural daquelas paragens. As aves emigraram para longe.
E a terra, penitente dos seus formosos meses de vida tropical e luxuriosa, deixa as vestes esplêndidas da sua verdura incomparável, para macerar-se no burel cinzento dos arrependidos. Mas, circunstância graciosa, não o faz bem uma festa de despedida.
Com as migalhas de sua riqueza perdida inaugura a festa das folhas. E, num recurso final, repentinamente transfiguradas, vermelhas, lilases, douradas, com reflexos maravilhosos começam as folhas um bailado cantante de cores, sob a projeção estonteante do sol. É a última festa. Triste carnaval, onde nem faltam as fantasias e o frenesi alucinante das vertigens, com que a terra anima a tristeza funérea daquela estiagem imensa.
Depois, tudo se faz silêncio e a natureza sofre, estóica, a longa penitência quaresmal de um sol flamejante.
As árvores, pobres árvores nuas, mendigas espalhadas pelos tabuleiros, formam uma sinistra procissão misérrima, de onde se levanta uma prece demorada de angústia e de terror.
Entra, então, em cena o homem.
Aquele inverno original e tórrido não o amedronta, enquanto estiver preso ao seu ciclo normal de três a quatro meses.
Entra em cena satisfeito superiormente adaptado ao clima e à terra, para a derribada. São os preparativos da roça."
Após a conclusão do longo e inspirado discurso, dá-se, segundo o Diário, a  conclusão do memorável ato:
"Uma salva de palmas, vibrante e demorada, cobriu as últimas palavras de S. Exa. Iniciou-se, então, o desfile pela Avenida Sete dos diversos colégios precedidos por um contingente da Escola de Aprendizes de Marinheiros e bandas de música, ao qual acompanhou o Sr. Dr. Governador, cercado de autoridades.
Foram plantadas, no percurso, trinta árvores, com os seguintes paraninfos: Intendência Municipal, Inspetoria do Ensino Estadual, Diretoria do Ensino Municipal, Instituto Histórico da Bahia, Associação das Senhoras da Caridade (Família Baiana),
Associação Comercial da Bahia, O Clero Baiano, Dr. Miguel Calmon, Diário da Bahia, A Tarde, Diário de Notícias, O Imparcial, O Diário Oficial, O Democrata e A Renascença, Coelho Netto, Conselho Superior do Ensino, Região Militar, Marinha Nacional, Mocidade Acadêmica, Academia e Literatos Baianos, Escola Normal da Bahia, Educandário do S. Coração de Jesus, Ginásio da Bahia, Corpos Legislativo e Judiciário do Estado, Conselho Municipal da Capital, O Professorado, Liceu de Artes e Ofícios e Centro Operário da Bahia, Liga Baiana dos Desportos Terrestres e Federação dos Clubes de Regatas da Bahia, Linha Circular e Centro Automobilista da Bahia, O Povo. À Rua das Mercês, foi plantada a última - a árvore do Povo."
A partir daí, o educador apela à sociedade - às crianças, em particular-, para que contribua no sentido da interrupção da prática das queimadas que, até hoje, e cada vez mais gravemente, têm contribuído para a devastação de nossa flora e fauna, com riscos à vida humana. 

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