Convidado, na condição de debatedor, para o Seminário O Ginásio Ruy Barbosa em Juazeiro-BA (1953-1963) - A sócio-gênese de uma instituição escolar, apresento as seguintes considerações: É um grande privilégio estar hoje em Juazeiro para falar sobre a tese de doutoramento do Prof. José Roberto Gomes, defendida recentemente na Faculdade de Educação da USP. Em primeiro lugar, gostaria de dizer que além de ser professor da UFBA, conforme o divulgado em cartazes e convites, sou também ex-aluno do colégio Estadual Ruy Barbosa, oriundo das classes populares e, acima de tudo, um simples cidadão juazeirense, como muitos que compõem hoje este auditório. Isso quer dizer que neste seminário eu falo de diversos lugares de subjetividade.
Não me cabe aqui avaliar a tese do prof. José Roberto porque a mesma já ostenta a aprovação por uma banca de especialista de uma das maiores instituição de ensino superior do país, que é a USP. O nosso papel aqui, hoje é o de comemorar a sua defesa ea sua apresentação à comunidade. Do ponto de vista do mérito científico, trata de uma trabalho muito bem escrito, sedimentado e articulado às tendências contemporâneas dos estudos sócios-históricos. Um dos seus maiores é, sobretudo, redimensionar a história e o significado de um ginásio do interior da Bahia, fazendo-o objeto de um estudo para a história da eduçação em geral, e do Brasil, especificamente, revelando a figura exemplar do prof. Agostinho Muniz.
A tese do prof. José Roberto refaz a história do ginásio e da própria cidade. Preenche um silêncio que existia sobre essa história e de tantas outras ainda silenciadas em nossa cidade, como os efeitos da ditadura militar no seio de nossas famílias e da comunidade juazeirense como um todo. É um trabalho sobre a memória, sobre a política, sobre a história da educação em Juazeiro, demonstrando que as elites locais eram contrárias à escolarização secundária dos "pobres" de nossa cidade. É assim que fundam um colégio de "ricos", o Ginásio de Juazeiro, se apropriando, inclusive, de um espaço público, uma praça, para erguer o seu templo que sobrevive hoje sob o nome de Colégio Dr. Edson Ribeiro.
Neste refazer da história de Juazeiro, outros aspectos chamam a atenção: a inexistência de documento sobre a nossa história, o que dificulta qualquer pesquisa.
Onde estão os arquivos, os acervos, as fontes, a memória da cidade? Um outro aspecto que gostaria de retomar é o de Juazeiro ser a terra do "já teve", que tanto incomoda a auto-estima juazeirense. Se dizemos "já teve" estamos convocando a memória, comemorando um tempo áureo que pode nortear ações futuras. Pior, no meu entender, é ser a cidade do "não tem" e "nunca terá". E isso chama uma discussão sobre a biblioteca municipal. De fato, é difícil respeitar uma cidade que não tem uma biblioteca municipal decente. Não envergonha ser a terra do "já teve", mas é desconfortável ser da terra do "não tem" livros, fontes, documentos, registros.
Por fim, gostaria de incentivar os ecos da tese do prof. José Roberto em novos projetos que contribuam para o crescimento social de nossa cidade, inclusive torcendo para o êxito do Instituto de Estudos e Projetos Educacionais Prof. Agostinho José Muniz. A criação do Instituto é mais um motivo para parabenizar o prof. José Roberto.
O nosso objetivo, como já disse, nesta noite, é comemorar nossa tese, da UNEB, da USP, da comunidade juazeirense e do Colégio Ruy Barbosa, mas em meio a esta festa persiste um gosto amargo que a história me traz às palavras. Uma história de poder, de dominação, que até hoje ainda esconde nos intramuros desta cidade.
Prof. Dr. Elmo Santos - UFBA