[O retirante...] assiste ao enterro de um trabalhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos que o levaram ao cemitério.
- Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor
que tiraste em vida.
- É de bom tamanho,
nem largo, nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
- Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
-É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo
-É uma cova grande
para teu defunto parco
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
-É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas à terra dada
não se abre a boca.
(...)
Agora trabalharás
Só para ti, não a meias,
Como antes em terra alheia.
(...)
Trabalhando nessa terra
Tu sozinho tudo empreitas
Serás sementes, adubo, colheita.
(...)
("Morte e vida severina", auto de Natal pernambucano, em "Serial e antes")