PEDRO DIAMANTINO
Em meus tempos de garoto, caro leitor, só mesmo as casas dos ricos é que possuíam banheiro.Os pobres, como eu, e os aparentemente pobres, como tu, tinha seu banheiro nos Angaris (sobretudo os homem), onde iam - uns, diariamente, e outros, semanalmente, quer fizesse calor ou frio, fazer sua higiene corporal. As mulheres - peças mais delicadas que não devem ser expostas senão em sitios apropriados - faziam sua toilette corporal, em bacias enormes, feitas de folhas de flandres, banhando-se com auxilio de uma lata, de uma caneca, ou cuia - modalidade de higiene a que dávamos o nome prosiaco de "banho de sopapo".
|
Os Angaris tinham duas utilidades capitais: banheiro e lavanderia, simultaneamente. Lavavam-se, ali, em horas diferentes do dia, a roupa suja e o corpo suarento ou empoeirado, da população. Banheiro, duas vezes por dia: das 6 ás 8, e das 16,30, ás 18,00horas. Das 8 ás 16,30, Lavandeiria.
Situados bem defronte do antigo matadouro municipal, que a cheia insidiosa e ingrata de 1926 destruiu, os Angaris têm sua denominação, retirada da planta aquática, ali encontrada, em grupo esparsos de moitas erguias, de delgado ramos, proliferando ao lado dos araçás-mirins, outra planta aquâticas, em tudo semelhantes a peguenos pé-de-goiabeiras.
LIVRO: Juazeiro da Minha Infância
Memórias - 1959 Rio de Janeiro
Pedro Diamantino |