Paulo Setúbal - Cartunista, Caricaturística e Artista Plástico. |
Paulo Setúbal
Juazeiro, cidade baiana situada à beira do abençoado Rio São Francisco. Do outro lado do rio fica a pernambucana Petrolina que sequer percebeu a flecha preta lançada pelo ciúme que um dia atingiu em cheio o peito do filho de Dona Canô. Juazeiro, que não é a do Norte, a que fica no Ceará, é terra natal de ninguém menos que João Bossanova Gilberto e de Ivete Sangalo, de Luís Galvão, vate dos Novos Baianos, e dos craques Luís Pereira e Nunes. Mas é, sobretudo, terra de um grande cara chamado Parlim, um criativo, simpático e profícuo desenhista, quadrinhista, artista gráfico, professor respeitado e de quebra um produtor cultural. No tempo que morei em Juazeiro frequentava o estúdio dele e ficava encantado ao ver seu amor à arte transformar-se em concorridas apresentações de mamulengos, títeres, bonifrates, oficinas de desenho para guris, em bloco infantil de carnaval, em álbuns de quadrinhos como o seu "A guerra de Canudos em Quadrinhos". Parlim é retadim. Um grande cara, um caráter maravilhoso, um sertanejo sem máculas, um coração enorme, uma alma de criança cheia de amor pelas artes, pelos amigos e por Juazeiro, sua querência. Desde que retornei a Salvador nunca mais voltei em Juazeiro. Mas não é por falta de saudades, que são muitas. Saudades do Velho Chico, de suas águas, suas ilhas, de caminhar com a namorada pela orla da cidade sentindo a aragem vinda do rio, de beber uma cerveja nos barzinhos à beira do São Francisco, jogando conversa fora, de comer carne de bode com pirão, de passear na vizinha Petrolina, de alguns ótimos amigos juazeirenses que lá fiz. Entre eles, Parlim, um artista dos bão, um João Gilberto das artes gráficas.
Texto: Paulo Setúbal