terça-feira, 1 de setembro de 2009

PRA VER A BANDA PASSAR


"Eu tinha nove anos de idade, mas acreditava no abstrato, nas nuvens das ideias, no invisível das criações. Meados dos anos 60, e Juazeiro era uma menina-moça, seios de botão de rosa se abrindo, ansiando sonhos de mulher, sob o olhar paterno do Rio São Francisco vigiando seus passos.
A Rua d'Apolo ganhava novo calçamento, os iotizeiros brilhavam de andorinhas e oitis. O picolé da Glacial era o melhor do mundo. ângelas. dalvas, emilinhas se revezavam nos alto-falantes, e o bizarro golpe de 64 ainda não tripudiara a poesia do nosso cotidiano.
De calças de curtas e lápis 'faber' eu conversava com José de Alencar, Machado de Assis, Castro Alves, Iracema, Capitu, Eugênia e tantos outros gênios e gênias da literatura, através da ternura de Professoras Rosalba Calvalcante. Dias longos, fraternais e literalmente velozes, como diziam as "Vozes velados, veludos vozes, volúpia dos violões..." Ainda sob a batuta cândida e liberativa da minha 'prima-pró' Rosalba, da 4ª série primária, invadi o curso ginasial através do programa estatal de 'Admissão ao ginásio'. Eu e nosso pequeno time de joãos, Maria. Rita de Cássia, Albanis, Reginals, Jorge e Cacás. Todos vitoriosos , saindo da beatitude primária para a santificação ginasial. Meu Deus, que saudade!
Enfantes Terribles, cazuzas aventureiros, obstinados aprendizes,em 1966, conquistamos a praia do nosso objetivo do desejo.Inicialmente o périplo no então Ginásio de Juazeiro, amamentando-nos na 1ª série A, com as professoras Graciosa e suas sintática análises de Português, e Isabel Marques com suas homéricas histórias de muitos 'Brasis'. Estávamos em Marte e tudo era fantástico...
Ao longo do tempo, nossa viagem prosseguia: acompanhando Beatles, Stones, Jovem Guarda. Woodstock, Vietnã, Neil Armstrong pisando na lua, a voz estudantil na Franças, Pasquim, Vandré, Teatro Opinião, Tropicália, Medici, Geisel, Araguaia, Fidel, Che, Cinema Novo, e nossa cabeças girando em torno do sol e suas caleidoscópicas imagens...
Agora, éramos guerrilheiros e artista desfilando em êxtase no curso colegial, entoando cantos de resistências de física quânticas, matemática modernas de Eusébio, hipotenusas, ácidos ribonucléicos: peloponesos do faraó Antogildo, 'teiquirize' de Sonia Mota e a didática lírica de Antonila; isso sem esquecer de dourar o Diretor Antonílio, mestre e amigo de todos nós.
Já orbitando nos anéis de Saturno, assistimos à Banda passar na boca de Chico Buarque, através da janela de Antonila 'Januaria' Cardoso. Uníssonos, em aula, cantamos 'Olê, Olá' pra 'Carolina' e 'Sem Fantasia' algumas fomos namorar na 'Noite dos Mascarados', nessa 'Roda Viva' de anos dourado sabiamente curtindos nas salas, pátios e corredores.
Vejo-me menino (e graças a Deus ainda o sou), tocando na caixa de 'rufador' da Banda do Edson Ribeiro e, a um só tempo, ali em pleno desfile de 7 de Setembro via a Banda, a vida e seus enigmas, passando na minha retina. Era que um filme em três dimensões. Era uma celebração da própria existência."
FONTE: Uma Luz na Educação - Antonila da França Cardoso
Texto: Expedito Almeida.

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