...e perguntaram se Lampião, Virgulino Ferreira da Silva, foi herói ou bandido. Fruto de uma estrutura social destrocida optou pela marginalidade como instrumento de discutível anseio de justiça. Acabou enveredando pela senda do crime até perder o rumo, liberando, inteiro, uma personalidade complexa onde conviviam, simultaneamente, numa ambivalência pouco encontradiça, o valente e o covarde, o frio e o sentimental, o calculista e o violento. Capaz de após um ato de bravura inconteste, vencido o adversário, sangrá-lo fria e covardemente.
Na sua trajetória de andanças pontilhadas pela violência teve, pelo menos, uma excepcional oportunidade de mudar o rumo da vida e enquadrar-se na legalidade. Em 1928, após a fracassada tentativa de invadir Mossoro (RN), perseguido por uma coligação das policias de Pernambuco, Ceará, Paraiba, Alagoas e Rio Grande do Norte, Veio, acompanhado de apenas cinco cabras, em péssimas condições fisicas e morais, ter ao Estado da Bahia. Aqui passaria quase um ano vivendo em clima de paz, desenvolvendo um círculo de amizades que incluia coronéis, fazendeiros, e até cidadãos comuns.
Assim como da concessão da patente de capitão para regenerar-se também na Bahia deixou passar a invulgar oportunidade. Em pouco tempo estava com o bando reestruturado, dividido em subgrupos dentro da estratégia que sempre utilizara em que diatribes. Possivelmente sua índole marginal se impôs. Possivelmente.
Todas as informações disponíveis deixam claro que Lampião e seu bando agiram sem discriminações; a violência e a crueldade eram praticadas, indistintamente, contra todos. E não se diga que, na sua pseuda sede de justiça. Não. Matava, violenta a saqueava risco e pobres, sem exceção.
Evidente que fenômenos da espécie só podem crescer e atingir a condição de mito em determinados neios sócios culturais. Tanto assim que nos dias atuais, a despeito da miséria crescente, inexistem condições para surgimento de novos lampiões.
Não se pode, dentro do processo de sua mistificação descartar a projeção dos anseios e frustações do homem comum, sofrido e espezinhado, realizando-se no cangaceiro destemido, capaz de enfrentar e levar de vencida fazendeiros, coronéis e policiais. Sob esse aspecto talvez se possa começar a entender as razões que o levaram a entronização como herói.
Um outro lado dessa personalidade multifária a ser visto é o da família. A dele, evidente. Sempre que possível, Virgulino procurou mante-la afastada e a salvo da violência que o cercava. O filho havido da relação com Maria Déia foi, de imediato, entregue aos seguros cuidados de terceiros. Embora, tenha permitido que três dos seus irmãos (Ezequiel, Antonio e Levino ) tenham entrado para o cangaço impediu que um outro, João, seguisse o mesmo caminho sob o argumento de que a fsmília dele precisava.
Não se pode pretender, aqui, nenhuma conclusão. Dezenas de autores e estudiosos já debruçaram sobre o fenômeno Lampião e as conclusões são as mais dispares possíveis.
...Voltamos ao inÍcio: BANDIDO ou HERÓI ?...
TEXTO: Dr. Alcir Santos
D.D. Juiz de Direito da Comarca de Juazeiro