R. Eu gosto de liberdade, gosto de me dirigir, não gosto de receber ordens. Naquela tempo, para sair, quantas vezes eu chorei na porta desta casa em que nós estamos, porque eu queria passear na rua D' Apolo e meu pai dizia que a rua D'Apolo não era lugar de moça decente, Imagine! Eu achava que toda decência estava na rua D'Apolo! Então, quando ele dizia aquilo eu sentia uma verdadeira revolta contra a pessoa dele. Mas ficava calada. Quer dizer: o espírito era rebelde mas as leis exigiam silêncio. Quando eu podia fugir, claro, eu fugia, ia passear na rua D'Apolo, que foi uma das coisas mais lindas que Juazeiro já teve.
- P. Como era a rua D'Apolo ?
R. O passeio da rua D'Apolo começou no início da década de 30, parece que foi em 34, 35. Eu conhecia aquilo sem nenhum calçamento. Naquela época a gente comprava a fazenda para ter vestido novo. Não comprava vestido porque não tinha boutique, sapato novo, meias de seda, usava todas as jóias que tinha, todo rouge, todo batom. Ninguém pintava os lhos, não era comum naquela época. Muitas mulheres acentuavam as sobrancelhas com tampa de curtiça queimada. De noite iam para aquele passeio, su per gostoso. Os rapazes faziam filas de um lado e de outro e nós ficávamos passeando de braços dados. Ainda hoje eu gosto. A coisa mais romântica que eu acho é você dar o braço a uma pessoa e sair andando. Era dali, da esquina da Maçonaria, até a esquina do Bazar Royal e de lá nós voltávamos. ali surgiam os namorados, os flertes, todas as histórias, os galanteios...
- P. Quem era o mais paquerador, o namorador da sua época ?
R. Era Arquimínio. Arquimínio foi o número 1 em Juazeiro, na sua juventude.
- P. E a menina namoradora da época ?
R. Não tinha. Toda menina tinha a preocupação de ter muita moral.
- P.O divertimento era só o passeio na rua D'Apolo ?
R. Não. Quando a cigarra do Cine São Francisco apitava todo mundo deixava a rua D'Apolo e entrava no cinema para assistir ao filme. O filme era uma coisa importante na vida da gente. Na segunda-feira, havia uma sessão mais barata, para as mulheres, no cinema. Só para as mulheres era mais barato. Eram exibidos dois filmes. Na quarta-feira era o melhor filme da semana. Então, para a gente assistir aqueles filme íamos novamente lordes. Aquela lordeza que a gente usava no domingo. Houve uma épocs em que foi construído o Jardim São Francisco, onde hoje está o vapor Saldanha Marinho. Aos domingos à tarde, depois todo mundo ia em casa, jantava e voltava para o passeio da rua D'Apolo e depois pro cinema. Neste jardim, construíram a 1ª fonte luminosa que teve a cidade.