P. E havia outras diversões em Juazeiro além do passeio na rua D'Apolo e o cinema ?
R. Tinhamos os célebres passeio à bordo que marcaram época em Juazeiro. Eram muito animados, sempre realizados com objetivo filatrópicos. Pagava-se ingresso, e pagava a comida e um conjunto para tocar o dia todo. Muitas vezes os pais não nos deixavam ir. Se a gente fazia dois passeio seguidos, no terceiro, o pai achava que a gente não deveria ir porque estava participando demais a bordo. Isso as pessoas hoje em dia não têm. As moças e os rapazes ficam esperando a noite para frequentar as boates. A primeira boate que houve em Juazeiro foi na rua D'Apolo. Dr. Geraldo Rocha trouxe esta novidade para a cidade - boate Shangrilá. Foi assim um escândalo. O povo nem sabia o que significava aquilo. Assim a gente entrava lá discretamente. Mesmo de dia, procurava entrar com todas as reservas. O movimento só ia até meia noite, ou meia noite e meia, já nos fins da década de 60, foi Clésio abriu aquela boate, a " Zingara", alí naquela área do Pinguim. Eu acho que as pessoas viveram muito mais.
- P. A partir de quando você começou a se interessar por pesquisar a história de Juazeiro e por quais motivos ?
R. Eu, perguntando a mim mesma, não sei se houve algum motivo para entregar-se a este trabalho da maneira que me entreguei. Apenas a coisa aconteceu. E acho que se uma pessoa por exemplo, disser, "a partir de agora eu vou pesquisar a história de Juazeiro" ou a história da terra onde eu nasci, ou a história de qualquer outro lugar e colecionar coisas, ela não vai durar nesse trabalho nem seis meses, porque essa coisa é muito complicada. Todo trabalho só tem continuidade se tiver dentro da pessoa. Eu tenho, por exemplo, coisas aqui, dentro de casa desde quando era menina. Por exemplo: a máquina que você está vendo é uma máquina alemã, foi do meu avô, assim como uma caixa de música e um gramophone. Aqui em Juazeiro em 1910, foi lançado um almanaque lítero-comercial. Ele está hoje com 77 anos. Então eu vi aquele almanaque. Eu andava por ai mas, quando chegava, sempre abria as gavetas para ver se ele estava no mesmo lugar, Existia antigamente um almanaque pequeno. Eu tenho números do século passado, meu avô assinava aquele almanague. Eu tenho dicionário charadístico, de charadas. Era uma coisa engraçada: naquela época os homem gostavam de decifrar charadas. Então fui, desde menina, juntando essas coisas. Jamais enfeitaria as minhas paredes com quadros de flores, com paisagens, essas coisas. Acho bonito, mas bem longe da minha casa. Dou mais valor a quadros assim: fotografias de Juazeiro, que sirvam de documentos. Isso pra mim é que tem sentido. Peças de artesanato, aquela indumentária toda de vaqueiro, a cabaça, etc. Fui criada vendo meus avós maternos, batendo a nata na cabaça para separar a manteiga do soro. É bonita, por exemplo. a lamparina, que serviu a uma das barcas de seu Dominguinhos, barqueiro muito amigo do meu avô.
- P. Qual é o seu interesse ?
R. É apenas um trabalho que eu gosto de fazer e me realizo fazendo. Acho que Juazeiro, como todo lugar no mundo, tem perdido parte de sua história por não arquivar todos lugar no mundo, tem perdido parte de sua história por não arquivar todos os acontecimentos. Em 1984. já como professora aposentada e funcionária efetiva da SUDESCO, trabalhando no Centro Social Urbano fui requisitada pela Prefeitura, para fazer uma pesquisa. A gente tinha o propósito de instalar a Fundação Instituto Geográfico e Histórico. Mas eu comecei minha pesquisa não em documento escrito. Porque isso muita gente já fez e chegou até a publicar livros. O que acho importante é na cabeça do povo.